O NADA

[meu nome é Nada]

parto, de uma aparência vã de rosto

para as faces de gosto invulgar,

de uma ruga usada nesta cara quase lisa

para as barbas fechadas que mal dá para rever

a vista da vista

[meu nome é Nada]

desavistada vista

que mal dá para aprender

[a ler]

os livros que não me foram autografados

[meu nome é Nada]

percebo, avisto

que a minha testa vê com um óculos de lentes suadas

[custado os olhos da cara]

que protege, sem querer, esta sobrancelha

jamais levada a sério

[meu nome é Nada]

enquanto esta lâmpada não for trocada,

hei de me acender,

me recompor,

compreender todos os Borges

[meu nome é Nada]

mil vis vãos complôs

vi de fato;

assim volto, iluminado, a me compor

sem a necessidade do grama e meio de respostas

[meu nome é Nada]

cativo e cativo,

convivo com todos os ângulos retos dos recantos das paredes,

enquanto equilibro, com um só torço, os jarros de barros,

até a borda do cheio

transbordar

águas mestiças

[meu nome é Nada]

preciso, com uma certa urgência,

refazer a barba;

trocar a lâmpada do quarto,

desembaçar as lentes dos óculos suados,

ler todos os livros guardados, mesmo não autografados...

apesar de todo feito,

o reflexo do meu novo rosto é visto num ladrilho do banheiro,

e, mesmo assim,

não consigo me desbatizar...

[meu nome é Nada!]