Redoma

Enquanto as luzes iluminam a cidade

Que se move a largos passos

Eu observo sentado a tudo

- Não, não, sei que hoje nada me consola

Talvez amanhã, quem sabe

- Não , Nana, não será o último cigarro

Não insista em mensurar a distância

Que me separa da coragem

Para enfrentar meus medos

Sei que hoje nada me consola

A sensação do correr dos dias

E eu aqui, sentado, como se

Não houvesse um mundo

Lá fora

E pelo vitral da vida

Sou um espectador do meu destino

Lânguido demais para alterar qualquer

Rumo

- Não, Nana, esse não será o último cigarro

Não enquanto minha fantasia vira fumaça

E eu a trago, acreditando assim possuí-la,

Em minha doce ilusão de alegria

De fugir do que temo encarar

E um fluido de vida irrompe em fúria

Mas se abranda frente à chance

De se realizar.

Quando tudo está perto

Sinto-me afastar da chance

De torná-lo experiência

- Não, Nana, esse não será o último cigarro

Há um vão em cada canto dessa casa

Desde que você se foi

Há palavras fraturadas no ar

Há sua ausência

Ainda não aprendi a lidar com os mortos

O mirante é meu lugar

Nada será como eu sonhei

Então fico a reprovar meu êxtase

Minha torpe estaticidade

EstátuaCidade

Que me tornei

Só memórias despretensiosas

- Sim, Nana, é o último cigarro

De hoje

De tanto tragar minha imaginação

Já não sei mais o que pensar

Fecho os olhos

Talvez amanhã.

Felipe Vigneron
Enviado por Felipe Vigneron em 06/10/2012
Código do texto: T3918611
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