Redoma
Enquanto as luzes iluminam a cidade
Que se move a largos passos
Eu observo sentado a tudo
- Não, não, sei que hoje nada me consola
Talvez amanhã, quem sabe
- Não , Nana, não será o último cigarro
Não insista em mensurar a distância
Que me separa da coragem
Para enfrentar meus medos
Sei que hoje nada me consola
A sensação do correr dos dias
E eu aqui, sentado, como se
Não houvesse um mundo
Lá fora
E pelo vitral da vida
Sou um espectador do meu destino
Lânguido demais para alterar qualquer
Rumo
- Não, Nana, esse não será o último cigarro
Não enquanto minha fantasia vira fumaça
E eu a trago, acreditando assim possuí-la,
Em minha doce ilusão de alegria
De fugir do que temo encarar
E um fluido de vida irrompe em fúria
Mas se abranda frente à chance
De se realizar.
Quando tudo está perto
Sinto-me afastar da chance
De torná-lo experiência
- Não, Nana, esse não será o último cigarro
Há um vão em cada canto dessa casa
Desde que você se foi
Há palavras fraturadas no ar
Há sua ausência
Ainda não aprendi a lidar com os mortos
O mirante é meu lugar
Nada será como eu sonhei
Então fico a reprovar meu êxtase
Minha torpe estaticidade
EstátuaCidade
Que me tornei
Só memórias despretensiosas
- Sim, Nana, é o último cigarro
De hoje
De tanto tragar minha imaginação
Já não sei mais o que pensar
Fecho os olhos
Talvez amanhã.