CONSTATAÇÃO
 
Cultivo palavras amargas
e uvas verdes, azedas,
porque as nozes estão secas,
não matam a fome sem nome,
que consome, que devora
o homem,
         o ontem,
                 o agora.
Transparentes são os versos
e as palavras escritas
com minha letra bonita
que exibo sem receio
ao olhar de alguém alheio,
que nada sabe, em verdade,
da minha história ou de mim.
Tudo na vida tem fim,
assim, também, o poema
que rabisco a duras penas
em um desenho inexato.
Não, não digo, nem desdigo,
apenas constato, é fato.