Aos mortos e desaparecidos

Uma noite eu vi

o céu se enfurecer

e as estrelas ficarem opacas;

uma noite eu vi

companheiro

a terra se perder no espaço.

Uma noite eu vi

a lua se esconder

numa grande sombra

maior que a tua angústia

mais negra que a tua solidão.

Olha amigo,

nesta noite eu vi(vi)

o destino daquele

que não aceitou ver

a grande floresta se manchar

de verde-oliva-amarelo

e então tingiu de vermelho-sangue

o broto

- e a essência nunca mais foi (será)

a mesma.

Na grande noite - noite escura

dos porões ouvi gritos abafados

vi membros jovens mutilados

e línguas cortadas

emudecidas.

Vi o eclipse

a terra pequenina

perdida no deserto astral

e a longa noite se consumar;

depois eu (vi)vi

a semente germinar novamente

furta-cor

tinta-cor (verde, azul?)

e tudo se resumir

no branco da tua mão mutilada

tocando as estrelas...

Liberdade

palavra bonita

perigosa

atemporal

- qual é teu preço?

Bete Dante
Enviado por Bete Dante em 31/07/2005
Código do texto: T39300