FIM DA HISTÓRIA
Depois da morte é desnecessária a poesia.
Os braços cruzados se recusam ao embate.
Uma inquieta escultura de sombra e silêncio
é a cruz que marca o fim da história.
Não é triste nem pavoroso, é só imenso.
Em breve o tempo também ocultará o caminho
com plantas bobas e ervas daninhas,
algumas flores e muitos espinhos.
E ninguém saberá que um coração intenso
pulsou no mundo e temeu a espera.
A paz que vejo escrita na pedra e no peito
é a mesma da boca que não justifica mais nada.
Se vai a alma e fica a escultura adiposa,
pouco importa, numa noite estrelada.
Lembrança também se oxida,
e o mesmo fim é o que aguarda toda vida,
no berço do início e no começo do nada.