Sem aviso

Um dia, sem aviso, a água secou.

Trincou o solo e afugentou os bichos

Foi como uma dor nem percebida

As mãos acenaram para o nada

E o nada era tão abstrato quanto a vida.

Um dia, sem aviso, o rio não encontrou o mar

Então os peixes não puderam mais admirar a imensidão

Os olhos só enxergavam o nada

E o nada era tão absurdo como a morte.

Um dia, sem aviso, o céu despencou

E escancarou a boca que já não sorria

E lacrimejou os olhos que estavam cegos

E o nada, então, empipocou a pele

E saudou a esperança

Esse sentimento tão abstrato quanto a vida.

(A vida é, com certeza, abstrata demais).