O HOMEM DIANTE DO OCULTO

Infância

De onde lhe parte a sombra,

à parte do que lhe sobra

abre-se a senda que em nada

para dentro o transporta.

E o homem colhe o peixe,

pesca a fruta, bebe a carne.

Que lhe resta? O que escondido

mostrou-se, que em novelo revela.

Depois urge que ele saia.

Mas para onde o caminho?

Pra fora de quê? Do agora,

do que outrora fora dentro

e expõe-se então afora.

E o homem bebe a sede

colhe a fome, pesca a falta.

São coisas de todo dia

sempre novas, envelhecidas.

Porque algo ainda lhe falte

é que ele segue a estrada,

mas sempre há um entorno

um contorno e o retorno.

nunca há de lhe ocorrer

ficar à beira da estrada?

Porque o homem não pare,

algo sempre se lhe oferece.

E ele caça, pesca, colhe

o que foge, escorre e morre

como se lhe pertencesse

o que por natureza escapa

o que é perda, o que lhe é falta

e não lhe adere a pele.

E tudo isso lhe fere.

Porque nada lhe confere

par de luvas para as mãos

seus dedos finca-os ao chão

rimado, bem ritmado

cada coisa lado a lado

a fome, a sede, a falta

sentida, bebida, medida.

Edil C. Santos

edilc
Enviado por edilc em 27/02/2007
Código do texto: T395053