ELEGIA SINTÉTICA

 


Um repetitivo cromatismo ao piano,
pra aliviar um coração desmontado.
O céu ficou um pouco incompleto,
porque a loucura sucumbiu ao analgésico.
Antes que o verbo fosse alguma ponte,
pertencia a quem nos queria em silêncio.
Mas hoje inventei parcos meios mecânicos,
para espalhar estilhaços de oração.
Você acredita em todos os inventos?
Pode conter todo e qualquer sangramento?
Pode dar significado a todos os tormentos?

Nas paredes de uma casa que se acaba,
são desescritos os poemas dos fungos.
os afrescos de anjos são por elas absorvidos,
assim que tranco a porta pelo lado de fora.
Traços de uma selvageria íntima,
perturbam a dança íntima da despedida.

Fogem de mim a divindade e a natureza,
para que eu me torne apenas conexão.
Uma placa mãe no peito, ao invés do coração.
Pés de chumbo para marcar a pista de dança
e pulmões de aço para fingir um suspiro de emoção.
Se alguém por aqui amou, não me lembro.
No lugar da mente que inventou a esperança,
ficou a fibra ótica e pouca informação.

 

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 24/10/2012
Reeditado em 24/10/2012
Código do texto: T3950543
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