III-CANÇÃO DO SOLDADO MORTO

 

 

Quem teve tempo de ser o salvador,
entregou suas horas à vala comum.


Alucinação para suportar a vida.
Não são estilhaços que voam,
são borboletas em trajetórias randômicas.
Não são os gritos de dor, amputação:
são crianças cantando escondidas,
por detrás do gás sarin.

Soldado, o que o traz a estes campos?
Que fúria e força são essas que cegam?
Mas agora, o que é isso que observo?
Sua mente, seus planos para viver mais...
tudo estraçalhado, tudo em pedaços.

Não vale a pena ser herói voluntário,
para um mundo feito de histórias erradas.
Por isso quando desisti do santo chamado,
sabia de seu destino, em meio ao deserto,
de homens comuns e ideias assassinadas.
Abandonei a bandeira e a honra,
para não me ver esquecido em seu lugar.

Somente em minha mente habita,
sua tão desimportante existência.
Por isso, somente eu componho a elegia,
que acompanha partes de seu corpo morto,
enquanto me afasto no horizonte (agora escuro)
sem enxergar absolutamente nada...
porque a noite trata de cegar tudo.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 04/11/2012
Código do texto: T3968546
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