Não sei...

Não sei de onde me vem a escrita

não lhe conheço motivo ou razão

não sei se é arte nobre ou maldita

não sei se é segredo ou confissão...

Sei que dos dedos ela sai

como se fosse um fluído

como algo que se esvai

depois de estar comprimido...

Sei que me dá prazer

quando não me faz chorar!

Mais não sei, e talvez não queira saber

pois não escrevo sobre o que vivo!

E sempre são vivências por acontecer...

Não sei se encarno outras vidas

não sei se vivo outros viveres

mas tenho horas escolhidas

em que se multiplicam os saberes...

Tenho momentos de graça

em que a rima se ajoelha

aos pés de quem lê a desgraça

do sentir de quem se assemelha!

Estranho gozo, infeliz saber...

Sentir pelo outro, o desgosto

daquilo por acontecer...

Não sei e nem quero adivinhar

pois prefiro escrever sem rumo

no balanço do meu mar!

Prefiro nas letras naufragar

para não ter de lutar...

Prefiro me render

e escrever

até a rima acabar...!

Jacinto Valente
Enviado por Jacinto Valente em 02/03/2007
Reeditado em 17/02/2021
Código do texto: T399014
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