Elo

Quando digo que faço das palavras

Minha fonte de energia

Podes ter certeza do que digo.

Faço de cada verso, de cada conjunção, conjugação

O elo necessário

para que eu caminhe

Mesmo em dias de chuva

Onde os pés, gélidos,

Pedem um bom par de meias

E uma infinidade de travesseiros

Para recostarem suas calosidades.

E por fazer-me elo com as palavras

Busco nelas a tradução

Mais do que completa

Para cada sentimento d’alma.

Seja ele o ardor do desejo mais secreto.

Seja a inconstância da angústia,

Apertando os cintos,

Acelerando a vida.

Seja a delícia da surpresa

Ou até mesmo os olhos abaixados

Num momento de solidão ou desespero.

Faço de cada verbo, cada adjetivo,

Cada artigo

O substantivo mais singular

Do meu viver.

Busco entre interrogações, exclamações,

E muitas reticências

Os quês todo especiais

Todo importantes

A me rodear a pele.

E por buscar nas palavras

A exatidão dos sentimentos

Faço delas a exatidão dos pensares.

Pensamentos que vagueiam.

Rodopiam ao som suave de uma melodia

Tão bem trabalhada

Quanto as de Vercillo

Ou mesmo um Djavan.

Trabalham com as letras com maestria.

Sem nem sequer se preocuparem com as rimas.

Sabem a que vieram

E fazem disso sua fonte inesgotável de aplausos.

Muito longe dos maestros

Mas tão amante dos versos e prosas

Faço de minha mão

A ponte para quem quiser escrever.

Por vezes, sinto que sou eu.

Noutras, que sou apenas ferramenta.

Mas, no final de tudo,

O importante é que tudo fica belo

E muito bem aceito.

E por não buscar aceitação absoluta

Brinco com cada verso, cada sentimento.

Unindo-os e desfazendo-os

Como se estivesse a costura-los.

Costuras retas, zig-zag,

Ou mesmo mais elaboradas

Para vestimentas de festa ou missa.

Ora me faço poeta.

Ora me faço poetisa.

Ora busco os romances ingênuos e pueris.

Ora ardo-me no fervor

Dos corsets e dos convites de ousadia.

E por ver-me ora ousada, ora santa

Brinco com cada palavra

E sua colocação verbal, nominal.

Por vezes, uso nomes.

Noutras, os escondo.

E, além, os pseudonimo.

Tão bom brincar de esconde-esconde

Com cada pensar, poetar!

Tão bom fazer das mãos

A máquina de transposição dos pensamentos!

Talvez seja isso um privilégio.

Não sei.

Talvez seja como o ato de estar viva!

Talvez faça parte de mim desta, de outra vida...

Mas, o mais esplêndido

É poder manusear cada querer

De cada indivíduo que cruza meu caminho.

Faço brincadeiras com eles, os sentimentos alheios

À medida que deixo minhas mãos

Deslizarem rapidamente sobre o papel.

Mas, por falar em papel...

É preciso deixar claro

Que ele segue sendo papel

Tão teatral, tão mirabolante,

Tão somente à medida

Que preenche as linhas do caderno.

Quando não há linhas, as invento.

Ora as sigo, noutras as entorto.

Como estão meus pensamentos, sentimentos.

Faço festa com as palavras

E as neologizo, criando novas companheiras,

Para os momentos de inspiração.

Um idílio apaixonante

Que circula na veia

Como alta taxa glicêmica

A me tontear em dias de ansiedade.

Amo cada verso, cada prosa,

As crônicas na ponta da pena

Ou da caneta esferográfica...

Isso me mostra viva!

Mostra-me a que vim,

Além de amar...

Mostra-me que posso acreditar

No poder de unir sonhos

E também desesperos do caminho.

Mostra-me que sou o elo eterno

Entre o que já passou

E o que ainda está por vir.

Seja agora, seja depois

Que o sol se for

E a cova, vazia,

Tão somente guarde os ossos

E a caixa encefálica

De um ser que, um dia,

Sonhou demais em ser gente grande

Mesmo que em suas palavras

Seus versos, sua vontade

De mostrar ao mundo

Que o amor, por menor que seja,

É a fonte inesgotável

Para toda e qualquer criação.

Seja ela doce, seja medonha.

Seja capaz de encantar

Ou mesmo confundir

Mais e mais o encéfalo...

Hoje, agora

E enquanto houver conexão mental!...

HELOISA ARMANNI
Enviado por HELOISA ARMANNI em 19/11/2012
Reeditado em 13/01/2013
Código do texto: T3993457
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