Adeus...
Eu quisera, meu querido,
nunca te falar assim...
mas é preciso que entendas
que o nosso amor vai ter um fim.
Tu viveste numa terra,
noutras terras me criei...
Tua vida é sem reservas
e na minha eu me enlacei.
Tua gente é diferente
das gentes que eu conheci...
Tua escola é independente
e na minha eu me prendi.
Eu quisera, meu querido,
dedicar-te uma poesia,
mas tudo o que consigo
é transmitir minha agonia...
Não é justo, meu querido,
que o teu pranto,
prá o meu canto,
seja o mar onde a saudade
vá um dia navegar...
Minha vida de tua vida
é preciso separar...
Não consigo, embora queira,
nem um pouco te amar.
Eu não quero que o teu sonho
se transforme em pesadelo
e que todo esse desvelo
vá, um dia, se acabar.
Eu aspiro outras coisas,
que não podes entender...
E sequer, eu compreendo,
tu não vais me compreender.
Tu procuras insensato
outros planos, outros sonhos...
Eu me embrenho em ideais,
que não podes realizar.
É, por isso, que eu não quero
que o teu pranto,
prá o meu canto,
seja o mar onde a saudade
vá um dia navegar...
(outubro de 1967)