Antioposto

Antioposto

Gosto de exórdios;

tem sabor de salsaparrilha,

que assim pelo nome espichado

havera de ser coisa palatosa

Moleques, brincamos de maus

por só conhecermos o bem

e não despartilharmos corte, de canivete

tiro, de genocídio; pratos de balança

Recordo Orzeu, que acordou assustado

verificativo

o mundo gira mais rápido

do que podemos acompanhá-lo

se entendia o claro e o escuro

macho e fêmea; querência e desapego

noite e dia era pela própria androginia das coisas

Antiléxico, ignorava verbete sozinho explicável

só compreendia pelos contrários

E, à noite, não sonhava

Deslembrava o último que arremetera

Ignorava coisas sem aço:

os vidros que não chegaram a espelhos,

água potável, óculos sem grau, vento e

mesmo baby-doll transparente atormentavam-no

Forcejava miragens

transmutava visões

travestia fantasias

e de risos só via os gatos;

a simetria dos sensos abandonara-o

nada validava: visto, escutado, cheirado

provado ou tocado, nada

nada

nada

nada

lhe garantia nada

Ruminava o dia por completo, plantava cogumelos

Pela ausência de sonhos tornou-se a si

um pesadelo, por pirraça

Dimensões se confundiam, a realidade fenecia

por absoluta falta de paz

Virou imortal

pela presença de vida que a morte requer

Gosto de corolários,

que assim pelo nome botânico

tem cheiro sexual de gineceu

Meninos, brincamos de sonhos

por incabermos onde nos põem

e não diferençarmos quaresma, de carnaval;

epicenos

feições

- publicada em LINGUAJÁ, O TERRITÓRIO INIMIGO -