Laudo do EU por outro EU
Flavia Costa


Morando na varanda do tempo
Sou edificação na esquina da vida.
Plantada na realidade,
Sou construção feita de sonhos,
Jardim ornado em flores e espinhos.
Sou janela transparente
A correr com vidros lisos.
Nos fundos, basculantes,
Com vidros fumês que não revelam.
Nos cômodos, cortinas vermelhas em trilhos
Sempre velando todas as frestas.
As portas que me edificam estão sempre abertas,
Trincos funcionando, sempre que necessário,
Mas há liberdade para entradas e saídas.
O que dentro de mim se passa,
Se enxerga com olho mágico,
Impossível olhar externo.
O interior, às vezes, é escuro e denso,
Há goteiras em alguns momentos,
Entretanto, raios de sol invadem,
Pintando o lar em bem-estar.
Minha casa é felicidade além de rachaduras
Sempre pronta para reformas e novas cores.
Minha habitação é poesia em todas as salas,
Biblioteca pessoal e universal
Mobiliadas com poeiras de segredos e verdades,
Disponível para a próxima luz que acenderá.


*Dedico esse poema à minha prima Helen que  trabalha em uma imobiliária e me encaminhou, por engano, o laudo de uma janela:
"Janela de correr com esquadria e vidros lisos. Trincos funcionando."
Beijos prima. Obrigada pelo carinho e comentário.