NASCER PÓSTUMO
1 PARTE
Nascer póstumo,
Tantos são os que conheço.
Homens condenados num corpo;
Ainda salivando,
Mastigando,
Suando,
Cheirando,
Respirando.
Pena!
Já carrega sobre si,
Cem anos de solidão,
Tantos anos de sepultura!
Desceria eu aonde Dante narrou,
Para despertar os homens!
Dante... Dante... Dante...
Ocultar-se esses homens?
Eles não habitam no limbo,
Eles não habitam no purgatório,
Eles não habitam no inferno,
Nem no céu,
Mas aqui, no mundo...
Vivo!
Dante... Dante... Dante...
Não revelar-se esses homens!
Nascer póstumo,
Tantos são os que conheço!
Homens condenados ao sepulcro,
Como datas continuas,
Com nomes em correspondências novas,
Com reunião às três da tarde,
Com regras e normas diárias,
Como o café quente e pão da padaria,
Como objetos e tempo contado na parede de bar,
Homens que não entende os homens,
Homens que não entende as crianças,
Homens que não entende nem seu próprio rosto num espelho quebrado,
Homem contemporâneo, “zumbis”
Maquina,
Escravo,
Como cem anos de solidão!
“ Em Salgadinho a tantos homens póstumo
Que a cidade parece um velório!”
Nascer póstumo
Tantos são os que conheço,
Homens que não brota das palavras,
Não brota do poema,
Não brota sequer dos sonhos,
E eu os conheço,
Saudou todos os dias,
As vezes me confundo como eles!
Como suas datas crônicas,
Seus horários,
Seus livros de pontos,
Seus medos da chuva,
Com suas esposas triste e gorda...
Como seus filhos estranhos.
“esses homens não entendem que todos os dias,
Quando o sol nos atravessar,
Tende a nos libertar dos nossos sepulcro.”
Dante... Dante... Dante...
Ocultar-se esses homens.
Nascer póstumo...
Valerá nascer!