Ah! Se fosse diferente...
Mundo malícia, mundo egoismo,
mundo fútil é a nossa vida...
Ah! Se fosse diferente:
gente sendo, apenas, gente.
Ah! se o ódio, o despeito,
a vontade de vingar,
fossem todos destruídos,
deixando livres, unidos,
os corações prá se amar...
Quantas vezes, lindos sonhos
transformam-se em pesadelos medonhos,
pela futilidade da mente...
Ah! se fosse diferente!
Se a gente compreendesse
que a vida passa e depressa
lá se vão, também, os sonhos...´
O tempo é curto e nos dá
pouco tempo prá flanar...
Às vezes _ não somos infalíveis_
erramos, deixando passar
a felicidade, sem notar
que ela, talvez, não volte...
E, noutras, enquanto é tempo,
por estúpida vaidade,
deixamos de ir procurá-la...
Ah! se fosse diferente:
gente fosse, apenas, gente.
Sem orgulho, sem tolices,
sem conceitos arbitrários...
Gente sendo, apenas, gente,
sem meter-se a ser Juiz...
Pois quem poderá julgar,
com acerto, senão Deus?
Senão Ele, o Criador,
que entre as coisas sublimes,
criou e deu-nos o Amor?
Ah! se fosse diferente!
Corações pacificados,
esquecidos do passado,
e do porvir despreocupados...
Aceitando-se como são
e erguendo sua mão,
apenas, para ajudar,
nunca para ferir
o próximo, seu irmão...
Ah! se fosse diferente!
Se todos compreendessem
como é sublime o perdão...
Apaga ódios, rancores,
traz a paz ao coração.
Aquele que vive odiando,
pensando em se vingar,
passa a vida vegetando,
nunca chega a se alegrar...
E taciturno, infeliz,
não vê o tempo passar.
Não vê que cada minuto,
cada segundo perdido,
nunca mais há-de voltar...
Isso é tão comum,
na vida de cada um,
que passa despercebido
no nosso cotidiano...
Filosofia vulgar,
mas que não se há-de negar
é a própria realidade.
E nós, que tempo inda temos,
vivamos, não vegetemos...
Cada segundo de paz
está para a dor, a tristeza,
como o pranto, para o mar...
Enquanto é tempo, vivamos!
O que perdermos, perderemos
para o sempre eternal.
(em 18/08/1967)