MARIA, MARIAS!

Mãe dedicada.

Não tem descanso.

Seu mar é pranto.

E escorre em dias

de alagamento

dos seus tormentos.

Vive de vento.

Planta esperanças.

Sonha fartura

para as crianças.

Tem no seu peito

um leito seco...

Açude murcho,

sem alegria.

Em sua vida

de desenganos,

não houve planos,

só sequidão.

Zé foi embora

buscar trabalho.

Lá na São Paulo

das ilusões.

Morreu caindo

de um edifício.

Andaime frouxo.

Lida de cão.

Ficou Maria,

com seus rebentos,

que se lamentam

sem refeição.

Mas tudo passa.

Roça perdida,

água contada,

poeira vermelha,

o chão da estrada...

Maria segue,

na sua faina.

Mulher de fibra,

Raça morena.

De dia é enxada,

de noite é lenda...

Soluça baixo,

olha pra cima,

pede justiça

pra Padim Ciço.

A prece é velha.

Perdeu o viço.

E o padim Ciço?

Tem compromisso.

Outras Marias,

filhos doentes,

vítimas prenhes

de inanição...

Morrem-não-morrem

espalham um peso

no ar já denso

desse sertão.

Maria é uma,

Maria é mil.

A chaga aberta.

Desse Brasil.

Goimar Dantas

São Paulo,

21/12/06

Goimar Dantas
Enviado por Goimar Dantas em 11/03/2007
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