ODE TERRESTRE

Não sinto saudades do Fernando Pessoa

Nunca sentirei saudades dele

Não posso querer sentir saudades dele,

Pois nunca o conheci na verdade,

Mas o que é a verdade?

A verdade é que os poetas são palavras encarnadas,

Dos quais germinam poemas em ventres cefálicos

A pessoa do Pessoa nada mais era

Que uma prisão de dor e escuridão para sua poesia,

Poesia que ele paria constantemente quando se sentava a escrever versos

Mas tinha a certeza de que seria interrompido antes de terminar...

Pois a noite viria e a alma era vil (no sentido mais vil da palavra)

Ninguém o saberia de fato

E se o soubessem, o que saberiam?

Um fingidor?... Talvez.,

Que importa, então, sabê-lo?

Ele se foi desta

Não sei se pra pior ou pra melhor,

Para outra ou para nenhuma,

Mas se foi para sempre, conhecer, pois toda a escondida

Verdade do que é tudo que há ou flui.

E para nós, ficaram os filhos de suas dores,

Estes filhos latumiadores

E cada um vem muito longe, nítido, clássico a sua maneira.

Carregando em si todos os sonhos do mundo.

Destes, eu sinto saudades,

Não do Pessoa...pessoalmente.

Saulo Palemor
Enviado por Saulo Palemor em 16/01/2013
Reeditado em 12/06/2017
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