A POSTERIORI

A POSTERIORI

Ainda me espanto

com os beijos na boca

da juventude

que confunde Kafka com Karl Marx.

Ainda me assustam os top-lesses

das meninas

e a naturalidade dos campos de nudismo.

Ainda acredito em Papai Noel

tenho medo do bicho-papão

e das almas que puxam pés.

Ainda me intrigam os mistérios do amor

o raciocínio das mulheres

e a maldade dos homens.

Ainda me afetam os rostos de crianças

em corpos de Graças.

Ainda me ferem

os impropérios que profiro

as negativas que ouço

e as paredes que me ergo.

Sou antigo, demodé

difícil de entender

até para mim mesmo.

(...ainda me surpreende a infâmia)

Ainda me irrita minha covardia

o medo de dizer

e esta eterna dúvida do amanhã.

Ainda me entristece

a fome do mundo

o desespero das mães

e a impotência das mãos.

Ainda creio.

Ainda não uivo à lua cheia.