Madrugada

Ao silêncio da madrugada

Amo os acordes mais agudos de um sax...

O ecoar doce e melódico de um violino...

De um canto gregoriano.

Mas é ao som de Vercillo

Que busco minhas maiores inspirações,

Aquelas do fundo d’alma.

Aquelas de acordar no meio da noite

Com as palavras na cabeça

E sair correndo à procura de papel e caneta

Para anotar um breve verso, uma estrofe rascunhada

Que virará uma poesia...

Ou talvez uma prosa poética

Falando do que mais me encanta

Ou me tortura no momento.

E esse mesclar de sensações

Torna minhas noites tão agitadas

Como se estivesse a correr maratonas.

Acordo agitada, pensamentos fervilhantes...

E na alma a ansiedade de adormecer e acordar

Com a sensação de mais uma surpresa...

Surpresas à parte... Sonhos me rodeiam noite adentro.

Abraço pessoas que eu não me lembro.

Sorrio com elas.

Beijo as mãos e as faces de seres que me enchem de suspiros.

E posso dizer que são suspiros reais.

Acordo sorrindo, levemente.

Então fecho meus olhos rapidamente

Só para conseguir mais um momento.

Mas, nem sempre consigo essa proeza.

Há momentos em que me vou para cantos sombrios,

Onde o medo me assola a espinha dorsal.

Algo paradoxal, que me tortura.

Fico acuada, com todo o receio do mundo.

E fecho não só meus olhos mais firmemente,

Como prendo minha respiração e perco meus pensares.

Como se estivesse sendo ouvida, em meus mais íntimos segredos.

Não me sinto confiante.

Oro. Rezo. Peço por toda a luz do mundo.

E então, volto às minhas inspirações.

Tão adeptas à madrugada.

Tão cheias de energias, ao som de um Vercillo, um Kenny G, um Djavan.

Os sons dos acordes melódicos

Criam em minh’alma caminhos, ramificações de felicidade.

Uma felicidade que ora me encanta, ora me faz fortalecer.

Um misto de felicidade explícita e escondida... Subentendida.

Um misto de querer estar assim, e sair correndo, fugindo.

Mas, sinceramente... Fugindo de que? De quem?

Talvez de tudo o que me congela o sangue.

O que me faz palpitar o peito mais aceleradamente.

Talvez dos reflexos solares de minha pessoa no espelho d’alma.

Seja no quadrado refletor pendurado em minha parede,

Seja no reflexo de mim mesma, na poça d’água formada após a chuva.

Talvez eu fuja. Fuja rápido.

Fuja de mim mesma.

Fuja das sensações.

Fuja doa receios.

Fuja das consequências.

Fuja dos desesperos leves que se formam

Toda vez que o pesadelo vem me assolar

Em noites de lua minguante.

Toda vez que a ansiedade me tira o sono, a calma...

Toda vez que o trovejar me treme as veias.

Talvez esse medo todo tenha uma lógica.

Talvez, não.

Talvez me faça mais forte.

Talvez, mais covarde ainda.

Talvez me torne um ser melhor do que sou.

Talvez, nem tanto.

Apenas digo que a madrugada me fascina.

Um fascínio apaixonante.

Um querer estar junto.

Um esperar cada segundo.

Uma madrugada a mais.

Um suave som de estar assim...

Curtindo cada detalhe,

De cada noite mal dormida

Sentida na pele, nos pelos.

E, certamente, inebriada na alma

Cada dia mais afim de sensações torpes

De lembranças todas

E de um final mal escrito, descrito...

À espera do ponto de reticências

E daquele toque todo especial

Que deixa a gente mais leve... à mercê...

Enquanto a alma estiver afim...

Assim...

Querendo sentir tudo isso...

Enquanto houver respirar.

Enquanto houver querer...

Enquanto houver bem-querer na alma.

HELOISA ARMANNI
Enviado por HELOISA ARMANNI em 22/01/2013
Código do texto: T4098209
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.