Desencanto
Queria sentir, pelo menos uma vez, a finura da sua boca.
Já não me basta sentir o arrepio da sua pele,
a vontade de tê-la cria um infinito de lacunas
entre as minhas muitas falsas razões.
Simplesmente quero agarrar a única esperança surreal
que faz com que todo o resto de seguro,
vire apenas um simular de acasos.
Eu adoraria ter de batizar estrela com você todos os dias,
nem que fosse apenas um passatempo, um devaneio de fim-de-festa.
Só tenho vontade de não ter que acordar no outro dia,
se o hoje é ter você aqui, do seu lado preferido da cama.
Nada iria me fazer mais feliz...
O ontem poderia não existir aqui.
As coisas poderiam ser feitas de açúcar,
pra que pudéssemos derreter tudo quando quiséssemos
e ainda fazer caramelo com o resto de desilusões.
O gosto do descaso seria medido não pela mágoa que provocaram,
mas sim pelo prazer que geraram depois de desconstruídos.
Seria tudo um eterno labirinto desalinhado,
uma junção de lugares comuns e sensações descontinuadas.
Tudo seria uma surpresa à cada beco, à cada curva.
Nada sobraria no fim,
apenas o seu cheiro,
o cheiro de ter seguido o caminho e sido recompensado.
Recompensado pelo badalar surdo da surpresa que fazia seus olhos piscarem.
Os olhos, seus olhos, nossos olhos.
A única porta escura que não me dá medo de entrar,
o único lugar grande que não me faz sentir sozinho,
que não alimenta o hiato insalubre que eu criei pra mim.
A verdadeira casa, a sua casa, nossa casa.
Nosso mundo, nosso momento.
Nosso sempre. Mesmo que tenha durado meio instante.
Nosso e aqui. Só.