Desencanto

Queria sentir, pelo menos uma vez, a finura da sua boca.

Já não me basta sentir o arrepio da sua pele,

a vontade de tê-la cria um infinito de lacunas

entre as minhas muitas falsas razões.

Simplesmente quero agarrar a única esperança surreal

que faz com que todo o resto de seguro,

vire apenas um simular de acasos.

Eu adoraria ter de batizar estrela com você todos os dias,

nem que fosse apenas um passatempo, um devaneio de fim-de-festa.

Só tenho vontade de não ter que acordar no outro dia,

se o hoje é ter você aqui, do seu lado preferido da cama.

Nada iria me fazer mais feliz...

O ontem poderia não existir aqui.

As coisas poderiam ser feitas de açúcar,

pra que pudéssemos derreter tudo quando quiséssemos

e ainda fazer caramelo com o resto de desilusões.

O gosto do descaso seria medido não pela mágoa que provocaram,

mas sim pelo prazer que geraram depois de desconstruídos.

Seria tudo um eterno labirinto desalinhado,

uma junção de lugares comuns e sensações descontinuadas.

Tudo seria uma surpresa à cada beco, à cada curva.

Nada sobraria no fim,

apenas o seu cheiro,

o cheiro de ter seguido o caminho e sido recompensado.

Recompensado pelo badalar surdo da surpresa que fazia seus olhos piscarem.

Os olhos, seus olhos, nossos olhos.

A única porta escura que não me dá medo de entrar,

o único lugar grande que não me faz sentir sozinho,

que não alimenta o hiato insalubre que eu criei pra mim.

A verdadeira casa, a sua casa, nossa casa.

Nosso mundo, nosso momento.

Nosso sempre. Mesmo que tenha durado meio instante.

Nosso e aqui. Só.

Fernando Cesar
Enviado por Fernando Cesar em 26/01/2013
Código do texto: T4106770
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