IMPROPRIEDADE POÉTICA

Dizem que o poema está morto.

Que caminha ou flutua, absorto,

Com saudades do que cá

Embaixo há.

Vez ou outra,

Quando lhe aperta o sentimento,

Se por fora ou se por dentro,

Desce, veloz, por avenidas de vento,

E põe-se no primeiro que passa...

E ainda tem gente que acha

Que possui a escritura da poesia

Como se ela, à sua volta,

Fosse cercada por fossos de engenharia.

Claro está que nem toda humanidade verseja,

Nem toda ela pragueja, nem toda ela reza;

Com cuia e enxada lá vai o poeta

Versos pedir e cavar (os feios, os que prestam),

À procura de respostas para o seu coração:

Se morta, se viva, já lhe disse ela:

ser ou não ser, eis a questão.