Dos cúmulos

O cúmulo dos tresloucados:

Atravessar a rua

De olhos fechados.

O cúmulo do desejo:

Dá ao reflexo do espelho

Um louco beijo.

O cúmulo da saudade:

Lembrar o ser ausente

Sem vontade.

O cúmulo dos sonhos:

Querer encanto

Nos fins medonhos.

O cúmulo do amor:

Levar uma vida

Sem mais dor.

O cúmulo dos bêbados loucos:

Querer declamar um hino

Estando rouco.

O cúmulo de ser vira-lata:

Ver numa lata de lama

Uma grande pedra de prata.

O cúmulo da nudez:

Desfilar nu por Copacabana

Sem timidez.

O cúmulo da felicidade:

Viver a sorrir sem motivo

Sem uma verdade.

O cúmulo da ignorância:

Desdenhar uma infante

Esquecendo a própria infância.

O cúmulo dos tédios:

Andar pela rua

A contar os prédios.

O cúmulo da solidão:

Ser acordado pelos pulsos

Do próprio coração.

O cúmulo do cúmulo:

A morte encontrar na vida

Seu maior túmulo.

O cúmulo dos abraços:

Dormir com o travesseiro

Preso aos braços.

O cúmulo da sorte:

Conseguir vida sem querer

Após a morte.

O cúmulo de um sorriso:

Ver um sorriso e sentir-se

No paraíso.

O cúmulo do afeto:

Lembrar alguém

E sentir-se já completo.

O cúmulo do adeus:

Os mares encontrando areia

E perdendo os céus.

O cúmulo da poesia:

Ser vivo estando morto

E sorrir sem alegria...

02/02/2013

Innocencio do Nascimento e Silva Neto
Enviado por Innocencio do Nascimento e Silva Neto em 02/02/2013
Reeditado em 02/02/2013
Código do texto: T4119520
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