Menino da rua

Meus sentidos são meus únicos pensamentos.

De olhos fechados enxergo, só, o triste mundo.

Meu corpo entoa melodias que ecoam fundo

E de boca aberta, as esmolas são os lamentos.

E se abro os olhos, vejo os ternos rabugentos.

Que de barriga cheia, me veem defunto.

Fosse minh’alma menos que meu corpo imundo

Não vivo, sobrevivo a estas ruas de avarentos.

Minhas narinas corroídas fazem o serviço da boca

Porque nas ruas, viajar no chão é mais barato.

Quem sabe assim louco, esqueço-me da vida pouca.

A cada Sol que nasce a barriga é cada vez mais oca

Conforme dita essa verdade cada vez mais louca

De querer que eu vivesse, mas de luz, neste mundo ingrato.