Acreditar

Que eu possa acreditar

que a escuridão

não seja o silêncio da luz,

tampouco a negação da cor.

Que em meu peito persista a esperança

de que atrás de cada lágrima

um novo brilho no olhar

em breve haverá de chegar.

Que em mim sempre exista

o desejo pela paz revista

e seja perene o motivo

para que eu busque o amor definitivo.

Que nunca o Pensar e a complexidade

substituam o Sentir e a generosidade.

Que nada atravesse a minha vontade

e que a minha pouca arte

sempre cante a Musa que se reparte.

Que não me fujam as palavras,

as semeaduras e as lavras

para que o ouro que se encontre

impeça todo injusto desmonte.

Que eu viva a minha circunstância

e caminhe a minha distância.

Que eu saiba preservar o meio,

pois dizem que a virtude está no centro,

mas que tal virtude

não me subtraia a lição

que só o erro pode me ofertar.

Que eu, enfim, possa sempre sentir

o gozo pela flor que me for dada

em cada nudez revelada.

À Musa.