GENTIL HOMEM

GENTIL HOMEM

Devoro as palavras

Para um vão futuro

Deixo-me em exposição

Para que me contaminem

Sífilis

Na esperança de filhos

Desesperados, protestuosos

Impregnados de repulsa

Penetro na casca da palavra

HIV

Parte, então, da frase

Na idéia ali espremida

Sou homem abastecido

Que dispara em agonia

À cata da forma

Que determine o fundo

De mais um dia

Tento utilidade no dia

Arrazoá-lo para vivê-lo

Compreender para ser

Entender para existir

Senhor, Dono do Desdestino

Eis que nos prostamos aos vossossos pés

Arrependido por ter vivido outro dia.

Senhor, Deus dos Esgotos

Musa Urbana do Caos

Eis, perante vós, o deposto

Vencido pelo trabalho vão.

Erguemo-nos

prometendo vingança amanhã

Olhares de soslaio, falsos

deixamos a pança da besta

Antes que o ódio arrefeça

(é pacífico o ódio da raça

Chama para sentar; oferece a casa)

Devora palavras

Para que não seja vão

Esse vão presente,

Futuro de ontem