quatro elegias reticenciais

...um dia então estarei em casa, mas que não seja tão logo, que não se vá minha energia, nem minha luz, nem minha temperatura... que a febre que sinto não me encha de frios tão intenso, que eu não deseje um abraço, nem o seio-colo no qual o silêncio de olhos fechados é frio e imortal... gostaria de andar mais um pouco, de fazer alguma coisa daquela utilidade que não se compra, nem se paga, que a necessidade de um abraço não me abrace forte demais, preciso respirar, respirar com alguma vontade, com alguma esperança olhar para essas coisas maravilhosas, para rios, e ladeiras, e ouvir vozes de crianças... tudo passa, eu passo, e o que fica, também passa, vai indo onde vou, onde gostaria de ir, de não está...

...sei que um dia nos vem um cansaço, assim como uma desesperança, mas a gente não para, continua, os olhos se acinzentam intensamente, a força enfraquece, a fé se distancia, um vazio dentro de nós mesmos nos afoga... eu sei o que devo fazer, eu preciso ter vontades, mas não tenho, e minha vontade de ter vontade fica apenas em vontade que se apaga, se transformam em cinzas, e então ergo os olhos para o dia que se pousa, como se o sol se despedisse dos olhos de alguém...

...não, não tento ser aceito. nem pretendo coisa alguma, até meu pensamento vai se indo assim por si mesmo, não quero pensar, não quero agir, não quero querer. nada, não quero nada... não quero não querer nada. não quero ser triste, não quero ser alegre, nem ficar no meio, nem chegar no afinal... que aqueles que querem alguma coisa sejam felizes, estou me sendo como um fogo que se apaga, como uma criança com cinza nos olhos, nas mãos, nos lábios, na infância inteira... aquele sorriso que tu imaginas não o encontrei, pintei alguma coisa em minha face, mas já desbotaram, foi um borrão desde a primeira pincelada... sabe, você não deve me ouvir, essas coisas que falo são pensamentos-sensações, nem sei de quem são...

...já precisei daquela palavra de incentivo, e antes de sair retardei-me um pouco te esperando me falasse, mas certo vazio se depositou nos gravetos que amealhei na insônia da noite, estava muito precisado de uma palavra de fogo que me acendesse, que apostasse em mim quando eu mesmo não me cria... te olhava em silêncio com olhos apagados, qualquer que me dirigisse um afeto puro seria meu amigo, e meu coração o amaria por todo o sempre, como quem, cego, recebe um bússola magnética... já precisei daquela palavra de incentivo...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 09/02/2013
Reeditado em 10/02/2013
Código do texto: T4131395
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