DO TEMPO

POEMA PARA A PRIMEIRA NAMORANDA, DEPOIS DE MUITO TEMPO SEM TER LHE ENCONTRADA!

Do tempo em que os anos nos esqueceram,

Catei os zodíacos, as cartas, os filósofos...

Catei, como que despenca algo!

Nomes,

Corpos,

Uma voz,

Um rosto,

Catei a outro;

Que não nasceu em salgadinho!

Catei gestos,

Cheiros,

Um monte de versos feitos,

Com datas,

Com fatos,

Como feto,

De dentro,

De dois...

Catei num tempo manco.

Catei algo abstrato,

Pé de vento,

Dente de sapo,

Barriga de vassoura,

Duas colheres de mim mesmo,

Num prato cheio.

Sempre num beco,

Numa brecha,

Num oco.

Catei, um outro;

Que não nasceu em salgadinho!

Do tempo em que os anos nos esqueceram,

Não tivemos palavras,

Não houve são João com roupas de matutos,

Não dançávamos a quadrilha,

Nem nos escondemos na praça!

Não nos tocamos na praça, no cais, na rua!

Não teve Tereza!

Do tempo em que os anos nos esqueceram,

Não plantei o homem,

E certo que o homem, nunca exista!

Nunca existiu!

Há um tempo pesado, no agora!

Teus filhos,

Minhas duvidas,

Tuas crenças,

Eu céticos,

Você pessoa,

Eu poeta,

Você nunca nua,

Eu de lua!

Há um tempo pesado, no agora.

Roupa que não veste nossos mundos,

Medos que nos amarra no fundo,

E um relógio continuo,

No pescoço de nosso destino!

Teu corpo...

Há teu corpo!

Monstruosa a mim!

Feio,

Sem cabelos,

Sem o presidente Médici,

Sem salgadinho,

Ficamos nós.

Gordos,

Distorcidos,

Sem amantes!

E houve um tempo adulto,

Um tempo burocrata,

Houve um poeta,

Houve Uma esposa, outro marido!

Houve as pragas,

O álcool,

Houve os áridos corpos,

Tantos corpos!

E caiu uma descrença ao óbvio.

E caiu uma descrença na vida.

E caiu uma descrença no nome!

Houve um deus quebrado na estante,

E poemas sem nomes,

Sem datas,

Sem causas.

Houve tanto de mim

Nessa cidade

Que chego a cheira mal,

Quais palavras nos encontrarão hoje?

Montei um homem que revelou palavras,

Conheceu as mulheres,

Cedeu ao tédio,

Foi contemporâneo do além,

E montei um homem respeitável.

Mil memorando pra cada sonho,

Um conhaque pra cada boca,

Montei homem...

Nesta terra sem homens!

Montei a solidão poética,

A solidão das coisas,

A solidão de nós,

E não falava teu nome,

Não deixava teus olhos me mirar,

Não deixava tuas mãos despir esse meu tecido,

Do tempo em que os tempos nos esqueceram,

Esqueci...

Manso e nostálgico,

Que cresci!

Severino Filho
Enviado por Severino Filho em 11/02/2013
Reeditado em 17/10/2019
Código do texto: T4134055
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