CONTA DE MENOS

à minha história sem graça

Não sei o que ocorreu comigo esta noite

Fui levado ao passado de mim por mim mesmo

Voltei ao correio de quartos um ligado ao outro juntos mesmo

Lá reencontrei meus desejos, meus sonhos ou os não sonhos que tinha

Me vi sentado na calçada curta da vida

Olhei novamente minha avó que com a trouxa na cabeça a me olhar

Num olhar suado a espera do prestamista a cobrar o lençol de cama comprado a várias prestações.

Seu sorriso não era o mesmo estava sem vida...era apenas um sorriso sem força

Mas vi que era ela que me sorria como a dizer: não estou.

Passei pelos cantos do correio sem dizer nada a ninguém

Muitos estavam junto de mim neste instante

Faces amigas que me são hoje distantes, mas estavam perto demais

Senti uma vontade louca de chorar

Desesperadamente gritar

Enlouquecidamente pedir por algo que não sei bem.

Sombras solenes saiam das entradas dos quartos de aluguel

Com seu Aldo com seu carnê

Com as fofoqueiras de plantão a falar dos que pagam e dos que não pagam

Meu coração chorou de saudade de tudo que vi, vivi e revivi.

Não uma saudade de querer voltar, mas de saber que passou.

De perceber que as vidas vistas não podem ser mais vistas

De entender que muitos do que me acompanham nessa viagem de mim a mim

São números. Ocupam espaços outros vagos e muitos nem ocupam mais.

São fantasmas da minha história.

Júlia, Carminha, Severina, Preta, Seu Cid, Dona Zefinha, Dona Mirinha, Antonio do coco são nomes apenas...

Que compõem uma apenas uma vida de mim.

É como se estivesse numa fila

Onde se tem sempre menos um

Menos uma pessoa

Menos uma vida

Menos uma história

Cada capítulo da minha é rasgado quando a conta é menos.

JAMERSON SILVA
Enviado por JAMERSON SILVA em 11/02/2013
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