À ESTÁTUA EQUESTRE

Ergue-te ousada sobre o chão da praça,

Homem de bronze, imagem do monarca,

Simulacro fatal!

Pisa inda as turbas humilhadas, como

As duras patas do corcel que montas

O chão de pedestal.

Cansada nunca de opressores feros.

Livres de um jugo, de outro jugo escravas,

As massas enervadas

Do pó resgatam seus tiranos mortos,

E à luz do sol inundam de louvores

Por terras debruçadas!

Raça de Ilotas, que fizeste pois

Da férvida centelha que no seio

Vos pôs a Divindade?

Porque reledes o passado escuro,

Quando deveras derribar os tronos

Cantando a liberdade?

Vota-se a treva o busto dos Andradas,

Some-se a glória de ferventes mártires

Na lama do ervaçal!

Mas fria a estátua pisa a turba, como

As duras patas do corcel de bronze

O chão do pedestal!

Oh terra do Brasil! Diamante vívido

Da coroa soberba de Colombo,

Bela estrela do sul,

Porque tão cedo declinas a fronte

E a fímbria do vestido enegreceis

No limo do Paul?

Porque tão cedo enregelais o seio

Nessas frias geadas que predizem

A morte das nações,

E os pulsos presos, e a vontade escrava,

Do mártir a memória e a voz dos bardos

Cobris de maldições?

Erguei-vos desse lívido marasmo,

Afrontai o negrume das tormentas,

O horror da tirania!

Se agora em bronze eternizai senhores,

Gravai no bronze o brasão dos livres,

Saudai um novo dia!

Embora o mundo me proclame louco,

Embora à fronte com furor me gravem

Estigma infernal,

Não posso calmo ver pisar-se as turbas,

Como o corcel de levantada estátua

O chão do pedestal.

Sem local e data.