NAVEGANTE

Quando eu for,

quero uma ida suave

como quem, comprimindo um simples botão,

desliga som e imagem de um televisor.

Quando eu for,

quero ir com a certeza

de que trilhei apenas os caminhos

que me pareceram mais certos...

Quando eu for,

quero somente as lágrimas que rolarem

por livre e espontânea vontade,

como um voar de borboletas...

Quando eu for,

quero um ataúde muito simples,

daqueles bem baratos,

pois não luxei quando em vida...

Quando eu for,

quero ir de pijama,

com o mais usado

que houver em meu guarda-roupa,

já que irei para dormir

o chamado sono eterno...

Quando eu for,

e indo para dormir,

quero ouvir um acalanto.

Se possível, me cantem um chorinho,

pode ser o Carinhoso

com um solo de cavaquinho...

Quando eu for,

quero um túmulo modesto:

um retângulo de cimento;

uma pequena lápide;

uma cruz; meu nome

e as datas da minha chegada

e partida...

Quando eu for,

e se, com saudades,

alguém me quiser sentir

basta procurar-me

que deverei estar

numa estrela cadente,

nas gotas da chuva,

numa nuvem qualquer,

no orvalho,

na quietude da madrugada,

na luz do luar

ou num pirilampo,

pois amei tais coisas quando em vida...

Quando eu for,

tudo farei para obter a permissão do Senhor

para, pelo menos, passear na brisa noturna,

pois assim estarei nas estrelas cadentes,

nas gotas das chuvas, nas nuvens, no orvalho,

na quietude das madrugadas,

na luz dos luares ou nos pirilampos.

Assim,

como navegante da brisa noturna,

estarei com os que me quiseram quando em vida

nas coisas que amei.

Quando eu for,

quero ir em paz com todos,

em paz com Deus...