O ESPELHO
Olhe só a minha menina!
Tão pequenina com o seu rostinho carmim e seus cabelinhos claros presos em fitas
Assenta diante do espelho e a se balançar, pinta o rosto de graça.
Diante da obra pronta...Palhaça; ri de si.
Ali sozinha numa viagem tão gostosa, passa para a gente a sua realidade, de que viver é brincar.
Olhe só a minha menina!
Assentada diante do espelho repete sozinha que quer ser bailarina.
E com as suas mãozinhas se concentra no traçado do lápis preto a contornar os seus lindos olhinhos castanhos.
Depois, bem depois, toma um batom róseo chá e destila o veneno nos lábios da boca carnuda.
Seus cabelos cacheados compridos desciam viçosos por sobre os ombros, enquanto a sua aparência, festiva já se embrenhava pela noite formando a moça.
Olhe só a minha menina!...
Andou e se perdeu na cidade,
Gastou a juventude conforme a moda da idade.
E agora assentada diante do espelho sente saudade...
Não é mais menina é senhora.
Maldiz as suas rugas, reclama da vida, chora.
Sem ter muito para onde ir, chama a solidão de amiga.
Não tendo mais como mentir, o tempo se encarregou da verdade.