O ESPELHO

Olhe só a minha menina!

Tão pequenina com o seu rostinho carmim e seus cabelinhos claros presos em fitas

Assenta diante do espelho e a se balançar, pinta o rosto de graça.

Diante da obra pronta...Palhaça; ri de si.

Ali sozinha numa viagem tão gostosa, passa para a gente a sua realidade, de que viver é brincar.

Olhe só a minha menina!

Assentada diante do espelho repete sozinha que quer ser bailarina.

E com as suas mãozinhas se concentra no traçado do lápis preto a contornar os seus lindos olhinhos castanhos.

Depois, bem depois, toma um batom róseo chá e destila o veneno nos lábios da boca carnuda.

Seus cabelos cacheados compridos desciam viçosos por sobre os ombros, enquanto a sua aparência, festiva já se embrenhava pela noite formando a moça.

Olhe só a minha menina!...

Andou e se perdeu na cidade,

Gastou a juventude conforme a moda da idade.

E agora assentada diante do espelho sente saudade...

Não é mais menina é senhora.

Maldiz as suas rugas, reclama da vida, chora.

Sem ter muito para onde ir, chama a solidão de amiga.

Não tendo mais como mentir, o tempo se encarregou da verdade.

Alberto Amoêdo
Enviado por Alberto Amoêdo em 16/03/2007
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