FUGA
 
Tua sombra me procura,
figura parda e escura,
pelas noites, pelas ruas,
arrastando as madrugadas
tão brancas, brancas e puras,
sem falar na tua jura
louca e desesperada.
Nessa fuga alucinada
eu me esquivo - motivo,
não quero teu corpo de febre
porque minha alma é leve,
e meu sonhar sensitivo.
Só quero um afeto sincero,
é o que na vida eu espero,
e não esse fogo que arde
na noite errante, na tarde,
a gritar pelo meu nome,
querendo matar tua fome
ingente e desesperada.
Tristura imensa e mágoas
a turvar as fundas águas,
esse amor não tem sabor,
é poço escuro de lágrimas.

Vá em paz, não vem atrás,
passa ao longe, bem distante,
eu não te quero - jamais,
e nunca serei tua amante.