O Rei Menino

O estandarte do Rei não é de púrpura e brocado,

é um lírio flutuante sobre o caos

onde ambições se digladiam

e ódios se estraçalham.

O Rei vem cumprir o anúncio de Isaías:

vem para evangelizar os brutos,

consolar os que choram,

exaltar os cobertos de cinza,

desentranhar o sentido exato da paz,

magnificar a justiça.

Entre Belém e Judá e Wall Street

no torvelinho de negações e equívocos,

a vergasta de luz deixa atônitos os fariseus.

Cegos distinguem o sinal,

surdos captam a melodia de anjos cantadores,

mudos descobrem o movimento da palavra.

O Rei sem manto e sem joias,

nu como folha de erva,

distribui riquezas não tituladas.

Oferece a transparência

da alma liberta de cuidados vis.

As coisas já não são as antigas coisas

de perecível beleza

e o homem já não é cativo de sua sombra.

A limitação dos seres foi vencida

por uma alegria não censurada,

graça de reinventar a Terra,

antes castigo e exílio,

hoje flecha em direção infinita.

O Rei, criança,

permanecerá criança mesmo sob vestes trágicas

porque assim o vimos e queremos,

assim nos curvamos diante do seu berço

tecido de palha, vento e ar.

Seu sangrento destino prefixado não dilui

a luminosidade desta cena.

O menino, apenas um menino,

acima das filosofias, da cibernética e dos dólares,

sustenta o peso do mundo

na palma ingênua das mãos.

(Carlos D. de Andrade)

Américo Paz
Enviado por Américo Paz em 24/02/2013
Reeditado em 01/03/2013
Código do texto: T4157442
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