...Quando fugi de casa, pra fazer faculdade em1979
Porque eu? Porque tantas restrições?
Parece ser estéril meu sonhar...
Porque tantas imposições?
Em minha vida, se minha!
Tropeçar nessas questões é minha sina?
Me levam ao médico... anda doida essa menina!
Só porque tudo quero e nada posso.
Então evaporo, dou o fora como posso.
Em qualquer lugar, vou pra dentro.
Pois minha vida a mim pertence!
Primeiro a Deus! Mas não Esse que oprime.
E das coisas que quero a que mais desejo
é o conhecimento...
Eu tenho direito ao saber!
Além dessa miséria afetiva.
que é minha herança de família.
Saio sem nada, não me importo.
Com mãos vazias eu posso agarrar o mundo!!!
Chavantes/01/01/79
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Quando me formei em 1981...
Com vestido novo comemoro um velho sonho.
O sonho de quem? Sonho meu, sonho meu?
Minha mãe sorri meus amigos, aplausos;
Ganhei um sapato novo.
Meus saltos são tão altos! O sonho e Eu.
Sorria para a foto: Meu pai: — Quem vai pagar?
Flash! Flash! Mais fotos — Claro que sou Eu!
O que vale mais: cifrões, ou brilho no olhar?
Na beira do abismo em saltos me equilibro.
Agora eu vou; Pra onde eu vou saltar?
Tenho no Currículo informação comprovada:
Eu, Maria safada! Pais comerciantes,
Classe quase média com filha professora: diplomada!
Aquela filha rebelde, agora certificada!
Rompendo regras, malcriada, desejo mais é ser amada.
Na pequena Chavantes, nunca fui má nem boa moça.
Quase mal falada, sem pudores e estranha,
Dorminhoca, preguiçosa, desregrada.
Quase sem preconceitos, ovelha quase negra.
Fera domada, professora desempregada,
Quase preocupada; é bom não ter nada pra fazer.
Me vejo nua com meu diploma na mão...
Família cristã, escola, sociedade,
Valores tatuados na alma: quais são os meus?
Diploma na mão, em cima dos saltos altos,
Altos demais, sapatos que não servem mais.
O que eu faço com esse diploma???
Os sapatos vou vender.
Jacarezinho/28/12/81