Amor de mãe ( Dedicado a Maria Xavier Pena )

O amor, o amo de mãe

fecundo, intraduzível.

Para o descrever,

conta uma lenda antiga

que u'a mulher, vendo filho crescer

criminoso e ladrão,

em prantos ajoelhou-se e, fervorosa,

o coração ferido, desgostosa,

do próprio filho seu,

pediu a Deus que a transformasse em pedra,

e Ele o concedeu.

Correm os tempos amargos. Eis que o filho,

seguindo a iníquia sorte,

foi em dura sentença

condenado à morte.

Era costume, então, matar o condenado

deixando-lhe tombar sobre a cabeça

uma pedra pendida

de uma corda fatal.

Era cortada a corda e a pedra do suplício

reduzia em u'a massa informe o corpo

do mísero mortal!

Chegara o dia, então, de executar-se

a bárbara sentença.

Ó leis divinas! Ó Deus, como é o destino!

A pedra destinada ao assassino

era a sua própria mãe,

que, alta, suspensa,

pois pedra se fizera;

aguardava o momento tenebroso

de aniquilar de um golpe

àquele, a quem a vida e o sangue dera.

Corta o carrasco a corda!

A multidão que cerca o trágico patíbulo

solta um grito de emoção! Enfim!

A cabeça no topo, o criminoso

cerra os dentes, trêmulo, medroso,

sentindo próximo o fim!

Deu-se, então, a cena formidável:

Antes que a pedra enorme o réu matasse,

com um grito de angústia, amor, e dó,

num estertor, ela desfez-se em pó!

Autor: Amauri Pena

Livro: Os Primeiros Poemas. ( 1949 )

Obs. Amauri Pena, poeta sabarense, era sobrinho do médium

Chico Xavier, poeta, compositor . Escreveu este e

outros poemas quando tinha dezesseis anos. Faleceu com 28

anos. Eu tive a honra de declamar este poema no jubileu da

professora e escritora sabarense Maria de Lourdes Guerra

Machado, no Teatro Municipal.