CILINDRO NOS OLHOS

Curvada sobre os olhos uma mulher

onde brilha o seu (deles) cilindro, árvore física

de um rosto destruído pelas mãos.

Um corpo de cidra e de saibro

onde dorme -- já cansada -- a mula mais veloz

do povoado: a neve, o coração de neve

há-de chegar em forma de guitarra,

nas letras espantadas de um jornal qualquer.

Amanhã no Rossio à hora do almoço

um homem pacato compra o jornal ao coxo:

"Olha lá em Bragança a neve já chega ao tecto?

Já roeu os pássaros?"

Fernando Grade

(Poeta Português)

FERNANDO GRADE
Enviado por CEMD em 04/03/2013
Reeditado em 11/03/2013
Código do texto: T4170438
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