CILINDRO NOS OLHOS
Curvada sobre os olhos uma mulher
onde brilha o seu (deles) cilindro, árvore física
de um rosto destruído pelas mãos.
Um corpo de cidra e de saibro
onde dorme -- já cansada -- a mula mais veloz
do povoado: a neve, o coração de neve
há-de chegar em forma de guitarra,
nas letras espantadas de um jornal qualquer.
Amanhã no Rossio à hora do almoço
um homem pacato compra o jornal ao coxo:
"Olha lá em Bragança a neve já chega ao tecto?
Já roeu os pássaros?"
Fernando Grade
(Poeta Português)