QUARTO DE 00:00 ÀS 04:00

QUARTO DE 00:00 ÀS 04:00

O vento rodopia as vestes

Alvoroça cabelos

Uma punhada d´água

Atinge as faces

Não lastimo ou me danifico.

Acostumado às intempéries

Noturnas, nem dou por conta

Das chibatadas na face tisnada

Pelo sol do meio-dia

Os olhos clareiam aos poucos

De ver o mar tanto

Agarro-me à balaustrada

Do tijupá

A luz vermelha, à esquerda

Dita a direção de outro barco

Longe, longe, à frente

Suspiro profundo

Vai, nau, para longe de mim

Maresia nos pulmões e espaço

Livre por instantes

Mas não só, deus do mar

Que outros trabalhadores

Vigiam, atentos, as luzes

Que guiam os desatinos

Penalizo-me pelos marítimos

Displicentes que apenas vigiam

Sem absorver essa imensidão

Negra que nos permite seguir

A natureza, outro mundo

Que aos deuses é complacente

Em eterna disputa já vencida

Ensaia seus trovões no alto.

Demonstrando seu poder

Verte sobre nós todas as águas

Como é frágil esse barco

Carregado de vida

Que chamam corpo

Navegando no abismo

Só, na imensidão do tijupá

Ando sob a chuva

Protegendo-me do vento

De futuro, nada

Apenas céu e mar.