O homem que nada dizia
O homem que nada dizia
A boca prensada numa última palavra, qual?!
Procuro nos seus olhos a resposta, mas eles estão calados
Imersos na escuridão do próprio olhar, as mãos deitadas
Ficam, e apertam um desejo que não se pode tocar...
O que ele queria dizer... Suas roupas simples
Parecem não dizer muito de sua alma, parecem não
Suportar aquela dor em pobres farrapos;
Arrebentam-se em seu peito, talvez, num grito de seu coração!
Calos por toda a parte, relevos que escrevem na sua pele
Seus anos de trabalhos, marcas que levam o peso
De todo o corpo, deixam apenas aos ombros arqueados
A obra inacabada de sua vida.
Mas o que ele quer dizer? Fica calado a minha frente,
Suas palavras não ecoam no ar, ecoam apenas em meus
Pensamentos... Vou embora... E olhos mais uma vez
Para aquela face, vejo um sorriso tímido nos lábios,
E um sorriso tímido nas suas costas encurvadas,
E só agora percebo o que ele queria dizer...
Estava cansado da vida, cansado de continuar uma existência
Que não existia para ele...
Morreu estendido como uma roupa suja
Manchada de um sangue pedrado;
Agora entendo... As palavras já não faziam mais sentido,
Na hora de sua morte
-O silêncio foi sua última palavra!