Um dia...

Um dia bato boca com minha consciência

E digo a ela umas verdades.

Ela anda precisando ousar

Aprender a dedicar-se

Tão somente ao que tem retorno.

Um dia aprendo a dizer não

Sem receio de represálias.

De ouvir minha maldita consciência

Dizendo-me que estou errada.

Um dia deixo a covardia de lado

E aprendo a cuidar do que desejo, antes de tudo.

E a desejar só sorrisos

Ao invés das lágrimas que rolam, na madrugada.

Um dia olho no espelho

E vejo algo bem maior que meus sonhos.

Algo que realmente me motive

A querer ficar aqui

Mesmo em noites de tempestade.

Um dia ainda abro os braços e alço voo.

Um voo sem rumo,

Apenas sentindo a brisa

Invadindo meus pulmões com ares quase rarefeitos.

E de braços abertos,

Perco o rumo

Deixando o foco de lado

Só para admirar

O que até então meus olhos

Nem sequer tomavam nota.

Um dia perco o medo de médico.

E então me deixo examinar.

Seja por fora, ora por dentro...

Sem vergonha nenhuma na carne.

Um dia digo a todos que amo

O quanto me são especiais.

Não hoje.

A covardia faz com que eu me trave.

E isso, eu sei, é ridículo.

Tão ridículo que eu mesma me puno.

Uma punição silenciosa, discreta.

Mas que fere tanto ou tão mais

Que qualquer autoflagelação.

Um dia perco o medo dos monstros

E deixo seres extraterrestres se comunicarem

Com toda a facilidade dos humanos.

Mas, um dia.

Hoje os vejo seres grotescos e estranhos,

Quase horrendos.

Um dia perco as estribeiras

E mando meus vizinhos ao quinto dos infernos.

Tamanha cordialidade

Só é válida quando recíproca.

Quando vem de um lado só

Deve levar outro nome.

Algo bem menos leve

Do que vizinhança.

Um dia ainda bato boca

Com quem quer que cruze meu caminho

Não buscando me acrescentar nada de útil.

De gente chata já chega meu espelho.

De certo, nem ele me suporta, certas vezes.

Um dia abro a boca e falo tudo...

Tudo o que vai em minh’alma.

Dizem que remoer sentimentos

Torna-nos menos saudáveis.

Contudo, tão somente um dia.

Talvez esse dia seja amanhã.

Talvez só na próxima encarnação.

Não sei.

O que sei é que guardo dentro d’alma

Todos os sentires que me fazem viva.

E lhe garanto... são muitos!

São tantos e de tão diferentes formas e cores

Que se unidos quase os comparo

Com blocos lógicos, tangrans.

Todavia, a lógica toda foge a milhas.

Feliz dela que consegue desprender-se.

Um dia faço o mesmo.

Mas, só um dia.

Quando a coragem estiver aqui.

Um dia, não hoje...

HELOISA ARMANNI
Enviado por HELOISA ARMANNI em 11/03/2013
Reeditado em 17/03/2013
Código do texto: T4182417
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