A canção das roseiras

A canção das roseiras

I

Saúdo as brisas das manhãs

No turbe leiro de Betel as praças

De rodelas franzidas que estopem

A roseira pequena e tristonha.

Branca cantiga canta uma ciranda,

Alegrar-te-ei em salto teu aroma

E da candura, roseira tua, falaste,

Brilha a alma das rugas petares.

Cabem meus dedos em suas gomas,

Descrevem meus olhos as danças do

Vento nas folhagens turba e me encanta,

Ofusca a chuva mansa que emana e sangra.

II

Saltam no súbito fecho de luz,

As preguiçosas despertam devagarinho.

Milagre! Brotou a fibra da roseira

Reluzente para brincar de bem me quer.

Ainda mocinha, relava intenso florir,

Sorria dormindo, careteia dos anjos;

Tocaste no desnudo, seu primo apalhaçado.

Filho de árvores imensas, lindas abelhudas!

E o folhetim brindava em silêncio

Que vus eras? Guardião de seus frutos

Da carícia e o do desnudo, na matina,

No ensejo, e na caída do sol fim de desejo.

III

Eis, me o trigo das rosas,

Fecundar-se sobre espinhos maldosos,

A fronte das trancas desassisadas,

Leve, na teia de seu esplendor.

Eis que me dar-te-ei sua tristeza

Afim de que não sofra o culminar

Dos anfitriões, alinha-me sua dor,

Espinhos abobalhados invejaram a rosa?

Encresparam sua beleza avivada?

Não, pobre coitado, tu cativas,

O horror das lágrimas, pão ázimo.

Se preciso for te comerei à mesa.

IV

Ofega-se no deleite da pele

De cingir de mãos, cenário viril,

Olimpo da contemplação!

Das veredas do coração.

Gracejo desvairado um cume

Bailado de sensação roubou-me,

O suspiro dos califas tia do ideograma

Da vida, uma carícia intimista.

E se rompeste o som com o

Pulsar inevitável dos olhares,

Calar-me-ia no encontro de línguas

Entre às roseiras que os astros rompiam.

Renato Narciso
Enviado por Renato Narciso em 11/03/2013
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