HERÓIS
Heróis vivos, heróis mortos,
heróis feitos ou desfeitos
por processos tortos ou direitos.
Uns que o poder enaltece,
outros com quem não se rala…
É conforme lhe apetece
ou porque a malha que tece
apenas carece
de heróis de sala.
Aos que não têm perfil
ou que não vestem com garbo,
não têm modo gentil
ou têm cara de parvo,
a esses, o poder cala.
É fácil deitar abaixo
uma vida feita acção
e fazer do homem-tacho
um herói de ocasião
– de farda limpa, dourados,
bem alevantada a grimpa
nos salões mais afamados
ou nas paradas de gala
onde se controla a fala.
Heróis servem de divisa
nos momentos de à rasca,
mas logo deles se enfrasca
quem deles já não precisa.
E há o herói diário,
sem nome em lado nenhum,
o que arrasta o seu fadário
de modo igual e comum
e que o poder desconhece,
a quem nem recorda o rosto,
e só lembra se ele se esquece
de lhe entregar o imposto;
herói que a tudo resiste
sem ajudas nem perdão
e que lá de longe assiste,
de sorriso que enobrece,
(sorriso que é descarga
paciente, lúcida, amarga,
não sendo alegre nem triste)
aos tais jogos de salão
onde nem falado é.
…
Quanta labuta e requinte
para se manter de pé
o vulgar contribuinte,
que se lamenta, e critica,
pois mal se aguenta na estica
do salário de pedinte!
Há heróis… e há heróis.
Valem quando são precisos…
Para carne de canhão
servirá qualquer feição:
os mais barbudos ou lisos
e os do feio palavrão
mas cuja acção, no concreto,
os torna valioso objecto
que nunca de estimação.
Não o crêem?!
É um facto:
o Herói perturba,
cai fora de moda,
quando não se curva,
antes incomoda
nas “guerras” da paz.
O que a moda faz!
Julião Bernardes
(Poeta Português)