Balada niilista (só pra ter título)

A tarde tem tons graves, infernais.

Sonho meu ser imerso na cidade,

no caos das praças e dos carnavais.

A hora tem um quê de gravidade

e eu vejo em negrito nos jornais

o necrológio da Eternidade.

Tudo é efêmero e sem verdade.

Vão-se os ônibus pelas marginais,

levando um passageiro sem idade.

Os centros lembram colônias penais

e algumas árvores sem qualidade

definham assim como múmias letais.

A História é já passado na saudade

do que nem sequer foi e não é mais,

o novo já não é mais novidade.

Os heróis de hoje são os mesmos de atrás,

são peças de um museu sem identidade,

e tudo é tanto fez e tanto faz.

Heráclito mergulha em seus canais

dialéticos, na sucessividade

do que se vai em águas fantasmais.

E em outdoors imensos, sem piedade,

no dorso dos edifícios gerais,

eu vejo a alma na publicidade,

feito um produto em promoções venais,

comprada pela imbecilidade,

que dança o funk dos débeis mentais.

Tudo é fútil e sem substancialidade.

No espaço fúnebre dos hospitais

há o luto da intelectualidade,

morrendo de doenças culturais,

enquanto a superior mediocridade

reina na tela podre dos globais.

E eu erro na contemporaneidade,

que passa velozmente nos sinais

onde um menino magro e sem vontade

joga seus malabares surreais,

criando milagres por necessidade -

um deus entre idiotas racionais...

Vagner Rossi
Enviado por Vagner Rossi em 14/03/2013
Código do texto: T4188095
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