A violeta # Poeta

A violeta (A uma incógnita... )

A ROSA vermelha

Semelha

Beleza de moça vaidosa, indiscreta.

As rosas são virgens

Que em doudas vertigens

Palpitam,

Se agitam

E murcham das salas na febre inquieta.

Mas ai! Quem não sonha num trêmulo anseio

Prendê-las no seio

Saudoso o Poeta.

Camélias fulgentes,

Nitentes,

Bem como o alabastro de estátua quieta...

Primor... sem aroma!

Partida redoma!

Tesouro

Sem ouro!

Que valem sorrisos em boca indiscreta?

Perdida! Não sonha num tremulo anseio

Prender-te no seio

Saudoso o Poeta

Bem longe da festa

Modesta

Prodígios de aroma guardando discreta

Existe da sombra,

Na lânguida alfombra,

Medrosa,

Mimosa,

Dos anjos errantes a flor predileta

Silêncio! Consintam que em trêmulo anseio

Prendendo-a no seio

Suspire o Poeta.

Ó Filha dos ermos

Sem temos!

O casta, suave, serena Violeta

Tu és entre as flores

A flor dos amores

Que em magos

Afagos

Acalma os martírios de uma alma inquieta.

Por isso é que sonha num trêmulo anseio,

Prender-te no seio

Saudoso o Poeta! ...

(Escrito por Castro Alves)

[Fonte: http://www.jornaldepoesia.jor.br/]

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Poeta

POETA, às horas mortas que o cálice azulado

— Da etérea flor — a noite — debruça-se p'ra o mar,

E a pálida sonâmbula, cumprindo o eterno fado,

As gazas transparentes espalha do luar,

Eu vi-te ao clarão, trêmulo dos astros lá n'altura

Pela janela aberta às virações azuis,

— A amante sobre o peito sedento de ternura,

A mente no infinito sedenta só de luz.

Perto do candelabro teu Lamartine terno

À tua espera abria as folhas de cetim;

Mas tu lias no livro, onde escrevera o Eterno

Letras — que são estrelas — no céu — folha sem fim

Cismavas... de astro em astro teu pensamento errava

Rasgando o reposteiro da seda azul dos céus:

E teu ouvido atento... em êxtase escutava

Nas virações da noite o respirar de Deus.

O oceano de tua alma, do crânio transbordando,

Enchia a natureza de sentimento e amor,

As noites eram ninhos de amantes s'ocultando,

O monte — um braço erguido em busca do Senhor.

Nas selvas, nas neblinas o olhar visionário

Via s'erguer fantasmas aqui... ali... além,

P'ra ti era o cipreste — o dedo mortuário

Com que o sepulcro aponta no espaço ao longe... alguém

No cedro pensativo, que a sós no descampado

Geme e goteja orvalhos ao sopro do tufão,

Vias um triste velho — sozinho, desprezado

Molhando a barba em prantos co'a fronte para o chão.

Aqui — ondina louca — vogavas sobre os mares —

Ali — silfo ligeiro — na murta ias dormir,

Anjo — de algum cometa, que vaga pelos ares,

Na cabeleira fúlgida brincavas a sorrir.

Sublime panteísta, que amor em ti resumes,

Sentes a alma de Deus na criação brilhar!

Perfume — tu subias, de um anjo entre os perfumes,

Ave do céu — nas nuvens teu ninho ias buscar.

Canta, poeta, os hinos, com que o silêncio acordas,

A natureza — é uma harpa presa nas mãos de Deus.

O mundo passa... e mira o brilho dessas cordas...

E o hino?... O hino apenas chega aos ouvidos teus.

Todo o universo é um templo — o céu a cúpula imensa,

Os astros — lampas de ouro no espaço a cintilar,

A ventania — é o órgão que enche a nave extensa,

Tu és o sacerdote da terra — imenso altar.

(Escrito por Castro Alves)

[Fonte: http://www.jornaldepoesia.jor.br/]