- EMPRESTAS-ME ENTÃO UM SORRISO?
- emprestas-me então um sorriso?
por tempo ilimitado?
prometo que não estrago
devolvo todo, inteiro
quando este nevoeiro
se cansar de ter-me a mim
- estranho pedido o teu.
porque me pedes tu isso?
acabo de acordar
dum pesadelo lançado
por um deus que é menor
que em vez de um sorriso
deixou-me nos lábios um grito
e nos olhos traços negros
que copiados ou ditos
por certo farão chorar
- preciso só dum sorriso
para enfeitar minha face
carregada por rugas d’ alma
que deixou de ter as cócegas
que me largavam nos olhos
o brilho do meu sentir
emprestas-me então um sorriso?
daqueles que deixas fugir
quando te vejo sonhar?
- vou tentar adormecer
viajar nas utopias
que quando estou acordado
as mato, por já não as querer
flores de perfume falso
luas que falam comigo
corpos a envelhecer
princesas que estão sem abrigo
amores por acontecer
lá vou encontrar um sorriso
lindo mas esquecido
por um desgosto qualquer
e em vez de te emprestar
trago-o preso nos dedos
porque to quero oferecer
Nuno Guimarães
(Poeta Português)