Ardósia Escrava

Salivada p’la miúda chuva,

chuvisco, pronuncio d’aguaceiro,

vagueia pardacenta, cinzenta Alma.

Chora empapada negra ardósia.

Rodam, rangendo, redondas escravas rodas.

No guincho e no gemido,

(tão sentido) …

Chora calcada a negra estrada;

Chora o alcatrão ferido – rio – via alagada.

Nebulosa travessia, (nem noite, nem dia).

Sombras apenas …

Nas trevas lúgubres, avanço e tropeço.

Caravela sem leme, sem timoneiro,

Que a estrada é agora o Mar inteiro.

A estrada … alongada...

Olho o céu onde navega

sentada na ponta de um cometa

uma borboleta em forma de estrela aberta...

Perdida …

Sem carta de marear, bússola ou mapa …

... a brilhar.

Que no Panteão, Indra, Deus da chuva,

soberano supremo do reino dos Deuses,

abriu todas as comportas.

Incontida, longa, a água

resvala dos olhos e morde a boca. Voraz!

Engulo a noite, no rodado mudo.

Desenho rectas e curvas convexas…

Engulo-me na noite, dossel de espumas,

montanhas encapeladas, altares de brumas.

Desencontrada …

Rola uma roda, carreto solto, perdida ...

Ardósia escrava, busca a Vida!

Mel de Carvalho
Enviado por Mel de Carvalho em 21/03/2007
Código do texto: T420581
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