Magaíça

A manhã azul e ouro dos folhetos de propaganda

engoliu o mamparra,

entontecido todo pela algazarra

incompreensível dos brancos da estação

e pelo resfolegar trepidante dos comboios

Tragou seus olhos redondos de pasmo,

seu coração apertado na angústia do desconhecido,

sua trouxa de farrapos

carregando a ânsia enorme, tecida

de sonhos insatisfeitos do mamparra.

E um dia,

o comboio voltou, arfando, arfando...

oh nhanisse, voltou.

e com ele, magaíça,

de sobretudo, cachecol e meia listrada

e um ser deslocado

embrulhado em ridículo.

Ás costas - ah onde te ficou a trouxa de sonhos, magaíça?

trazes as malas cheias do falso brilho

do resto da falsa civilização do compound do Rand.

E na mão,

magaíça atordoado acendeu o candeeiro,

á cata das ilusões perdidas,

da mocidade e da saúde que ficaram soterradas

lá nas minas do Jone...

A mocidade e a saúde,

as ilusões perdidas

que brilharão como astros no decote de qualquer lady

nas noites deslumbrantes de qualque City.

Noémia de Sousa

(Poeta Moçambicana)

NOÉMIA DE SOUSA
Enviado por CEMD em 25/03/2013
Código do texto: T4207405
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.