A INCÓGNITA

em memória de Charles Darwin

sem disso sequer terem recebido notícia

congeminavam os homens como habitar

as planícies semear os campos escalar

as montanhas amasssar o barro pintar as grutas

caçar antílopes beber uma cerveja perguntar

a Darwin como tudo isso amanhã

seria possível

ainda amolecidos pelo peso da água

tolhendo-lhes as entranhas e os movimentos

sem que os deuses tivessem por esses

momentos

dado qualquer sinal de vida e já a terra

apascentava pachorrentamente uns paquidermes

à mistura com uns insectos insignificantes

e umas aves desengonçadas brincando com répteis

querendo subir a árvores sem que memória

houvesse do desaparecimento dos dinossauros

enquanto o sol persistentemente manteve a ideia

de iluminar as flores na repetição contínua

dos calendários

de modo a que se não acabasse o futuro

aqui nesta aldeia

José António Gonçalves

JAG
Enviado por JAG em 23/03/2007
Código do texto: T423115