TUDO norMAL (uma elegia ao banal)

Criança arrastada à morte

- família triste e sem sorte

(dói no coração)

e provoca consternação

até aparecer na tela

mais um capítulo da novela

E tudo fica norMAL

Criança negra e desvalida

ganha uma bala (perdida)

chora uma mãe desgraçada

sua pobre (literal) amada

lamenta quase todo o país

até mesmo os dirigentes vis

Mas, tudo volta ao norMAL

Criança de periferia

doa seu corpo de dia

aluga sua alma à noite

vida-senzala – um açoite

e acreditando viver

tem prazo para morrer

A vida prossegue norMAL

Criança dentro da escola

faz o estudo com cola

prepara a profissão

- será aprendiz de avião

terá um patrão bem cedo

seu dono chama-se: medo

O (es)tudo é coisa norMAL

Criança virando bicho

cata o futuro no lixo

come o que a vida lhe deu

- o meu resto e o seu

oh! pobretão ingrato

ainda cospe no prato

Parece tudo norMAL

Criança morre em hospitais

- ainda morrerão muitas mais

de dores, de parto e de cortes

- são somente mais mortes

é gente que cumpre sua sina

é gente que “ a gente” assassina

Acontece tudo norMAL

Criança pedindo na esquina

(mais triste quando é menina)

se humilha em prol do adulto

ouve cantada e insulto

há quem, até tire sarro

(e você fecha o vidro do carro?)

Aqui vai tudo norMAL

Quando vejo no jornal

o mal parecendo banal

e a vida seguindo normal

descubro a apologia do mal

Quando será, hein!

que tudo aqui irá norBEM?