ESQUEÇA O FUTURO

Busco o que não existe

e se o encontrar?

Não quero mais ouvi-lo cantar

(isso é para sereias)

nem chorar ou morrer

(isso é para rei deposto)

só quero ver o seu rosto, feliz

(pescador em mar piscoso)

Cuide do seu regresso

afaste as suspeitas, os perigos

volte do inferno bisonho

para o real mundo dos sonhos

Coma, sem medo, seu doce fruto

e extraia, do sumo, o sentido

Esqueça o que nunca aconteceu

esqueça o futuro

Repare as ofensas que cometeu,

me querendo no duro

Reconquiste logo esse reino:

de ogro a príncipe, num pulo

Que identidade é essa

– minha ou sua –

que tanto procura?

Não por acaso Ulisses salvou a vida

trocando seu nome para Ninguém

seja só (mais) alguém

que, num ato de fé,

eu amo

Ana Guimarães
Enviado por Ana Guimarães em 24/03/2007
Reeditado em 24/03/2007
Código do texto: T424831